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21/07/2017

Se queremos melhores professores, temos que ter melhores pessoas

Alexandre Ventura fala da importância do aprimoramento e do empoderamento dos professores

por Vívian Gamba
Se queremos melhores professores, temos que ter melhores pessoas
"Tudo o que fizemos ou deixarmos de fazer é responsabilidade nossa. Temos que dar tudo o que podermos dar, fazer tudo o que tiver ao nosso alcance. Temos que ter o foco nos nossos alunos em termos de responsabilidade e de potencializar o sucesso deles como se fosse dos nossos filhos." O doutor em Ciências da Educação pela Universidade de Aveiro (Portugal) e UnB (DF) e professor do Departamento de Educação e Psicologia da Universidade de Aveiro Alexandre Ventura deu início à palestra "Professor: protagonista de inovação e mudança" falando da importância de termos bons professores e sermos bons professores, porque um professor é insubstituível na vida dos alunos, tanto pelo conteúdo que ele transmite quanto em relação às competências emocionais e sociais. "Temos que fazer pelos filhos dos outros o que queremos que os professores façam para os nossos filhos." E quais as qualidades de um bom professor? Com a ponderação de que qualidades são uma construção social e que o que é valorizado em determinadas regiões ou escolas não é necessariamente igual a outras, ele citou o que considera aspectos essenciais para exercer a profissão. O primeiro deles, a espinha dorsal sobre o qual todo o resto deve ser construído, é a ética. "É simples e ao mesmo tempo tão difícil. O professor deve ser ético. Como ser humano, como ser social e como profissional. Se queremos melhorar a questão ética no país devemos trabalhar a ética na escola, vivenciá-la, praticá-la, para que ela extravase e contagie as pessoas e as instituições." Para Ventura, o professor deve falar de ética e valorizar a ética; suscitar esse debate, para que os alunos entendam o que está certo e o que está errado no desenvolvimento de sua personalidade. "(Mostrar) No concreto, não no abstrato. Ajudar os alunos a pensarem com a própria cabeça e desenvolver responsabilidade pelos seus atos." Ter estratégia de vida pessoal e profissional é outra das qualidades, fator de inspiração. É uma forma de arquitetar o futuro, definir o que se quer, como pessoa e como grupo. E os professores devem manifestá-la na sua ação concreta diária, dar o exemplo aos alunos do que é desejável que eles façam. "Pessoas com estratégia serão tendencialmente mais capazes de lidar com as frustrações. As sem estratégia são permeáveis à frustração, à inexistência da frustração, têm a vida ligada à circunstância." Ventura falou, também, da importância do ecletismo, a capacidade de dar o testemunho da pluralidade, da alternância, do espírito livre. "O fundamentalismo é o veneno da nossa sociedade, seja político, religioso, de modo de vida. Há gente hoje que pensa como na Idade Média, agarrada a preconceitos. Têm no seu cerne a falta de ecletismo. Só vêem numa direção. Não percebem que um ponto de vista nada mais é que a vista através de um ponto, nem melhor nem pior que outro, que estará em sintonia com alguns, e nunca com todos." Para o conferencista, o respeito às ideias e as concessões a pensamentos alheios deve fazer parte do cotidiano das escolas. "Até porque muitas famílias não têm capacidade de promover o ecletismo em seus filhos. Se daqui a 5 ou 10 anos quisermos pessoas que enfiem um espeto de churrasco na barriga de quem torce para um time diferente, temos que trabalhar isso hoje na escola e no seio da família." O entusiasmo também é fundamental. Professores que têm brilho nos olhos, que gostam do que fazem. "Como podemos ensinar se não temos entusiasmo pela própria vida? Se queremos motivação dos nossos alunos, temos que estar motivados. Os alunos não têm nada a ver com fatores alheios à sala de aula (que incomodam o professor)." Ligado a isso está a competência comunicacional que, como uma das armas dos professores, deve ser desenvolvida e aprimorada. Outro aspecto considerado muito importante é o envolvimento. "Por mais profunda que seja a nossa humanidade e o nosso gosto pela profissão, se não nos envolvemos, não preparamos bem a nossa aula, não temos eficácia na ação. A boa aula é fruto de muito trabalho, preparação, escolha das estratégias, materiais, melhor didática. Depois da aula, o que identificamos como sucesso da nossa ação? Os alunos acompanharam? As coisas correram como planejado? O que é preciso reconfigurar?" Ventura colocou como um problema a desprofissionalização do ensino, aspectos que têm atacado a realidade do professor, como o crescimento significativo dos sistemas que retiram o epicentro da sua relação pedagógica. "Há um sucateamento da formação inicial do professor, da formação continuada, diminuição do financiamento do setor educacional. São ataques que têm posto em perigo o ensino e a ação dos professores." Há dois conceitos relacionados com isso: o profissionalismo, objeto da ação dos sindicatos dos professores, que trouxe ganhos significativos em muitos países; e a profissionalidade, a qualidade do exercício profissional do professor, seus deveres. "Considero que os sindicatos têm siso eficazes na defesa dos interesses corporativos dos professores. Em virtude disso, passaram a ter melhores salários e condições de trabalho. Como corporação, temos tido sucesso na exigência dos nossos direitos, mas não tomamos inciativa na profissionalidade. Não temos aprimorado, por iniciativa nossa, sem que ninguém nos imponha, a qualidade do nosso desempenho, para mostrar o que fazemos, a qualidade do que fazemos. Há um déficit de profissionalidade." Ele critica a prática profissional do professor como "aplicador de currículo". Segundo Ventura, milhares de professores são encaminhados a esse perfil. Muitos não sabem construir um plano de aula. Não foram formados para isso ou, na escola, alguém supostamente mais conhecedor decide isso por eles. "Não tenho nada contra a técnica, mas contra o perfil exclusivamente técnico, que não pensa pela própria cabeça, ensina a todos como se fossem um só, sem atender às especificidades dos alunos. Não personaliza, não adapta, não modula, não flexibiliza. Não interessa à escola, aos alunos, à sociedade. Não é o caminho." O perfil que interessa é o do profissional reflexivo, que tem um conjunto de recursos, orientações, conhecimento, formação, experiência, que sabe trabalhar com alunos concretos, diferentes, com históricos e estilos de aprendizagem diferentes e que, como professor, é capaz de potencializar a aprendizagem de cada um deles. "O caminho é termos professores cada vez mais capazes de pensar pela sua própria cabeça e incentivar os alunos a pensarem pela cabeça deles. Temos que empoderar o professor. Temos que fazer com que ele assuma o controle da profissão." Ele colocou que pensar exige tempo, dedicação, trabalho, e que muitos se deixam "inebriar" porque é confortável. "Mas se tivermos a perspectiva de funcionariozinhos, vamos formar uma sociedade de funcionariozinhos." Ventura defendeu como caminhos para a melhora da profissão e da sua imagem social elevar o nível de exigência daqueles que vão atuar na profissão e colocar nas faculdades professores de ensino não superior, com experiência de sala de aula, como formadores de outros professores. "Quanto maior a dimensão prática daqueles que estão estudando, mais suave a transição para o desempenho da sua função." Além disso, criar sistemas em que professores jovens pudessem aprender com professores mais experientes. "Há algo intraduzível que não está nos livros, que é importante que os jovens saibam." E, além disso, localizar a formação continuada no contexto das escolas. "Muitas vezes temos professores muito capacitados, mas buscamos a galinha do vizinho. Porque não colocar alguém da própria instituição para dar formação aos demais. Muitas das escolas têm condição de fazer isso." Abraçar o sonho de mudar é o que vai permitir, segundo o professor, que tenhamos um país diferente, para melhor, mais culto, mais eclético e mais ético. "Devemos pensar: se queremos melhores professores, temos que ter melhores pessoas. Precisamos da dimensão da racionalidade e da dimensão das emoções, de seres humanos mais aprimorados." **[Confira aqui o vídeo de Alexandre Ventura, que respondeu a dúvidas dos congressistas após a palestra](https://youtu.be/kSNHhdfwUQs)**

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