Comportamento digital: os cuidados no uso da internet
Atuação conjunta de famílias e escolas é fundamental para manter a segurança dos alunos
Com a suspensão das aulas presenciais, o uso da tecnologia se tornou essencial para a continuidade dos estudos, levando os alunos a utilizarem ainda mais a internet. O aumento da exposição digital exige responsabilidade das instituições de ensino, além de uma atenção redobrada dos pais. Para a psicóloga Ana Cristina de Oliveira Machado um dos segredos é o diálogo, conversar sobre o comportamento digital dos alunos.
Confira a entrevista completa:
SINEPE/RS: Qual deve ser a primeira orientação dada aos alunos (filhos) ao ingressarem no meio digital?
Ana Machado: Precisamos começar cedo a preparação para a entrada nos meios digitais, pois as crianças tem acesso aos celulares dos pais, cada vez mais cedo, prática desaconselhada pela Associação Brasileira e Americana de Pediatria, antes dos dois anos de idade.
A primeira orientação é o diálogo. Conversar sobre o mundo digital e a tecnologia (computador, laptop, celular, redes sociais, jogos on-line, vídeo games, brinquedos). É importante relacionar a tecnologia com o mundo da criança, sem assustá-la e sim a orientando, explicar que o que torna a internet boa ou ruim é o nosso comportamento digital. Devemos enxergar a internet como a nossa casa, tudo que aprendemos no mundo físico pode ajudar nas escolhas no mundo on-line.
Ensinar e orientar crianças e adolescentes dá muito trabalho, mas será ele, ou a falta dele que vai determinar qual o perfil dos futuros jovens. Além disso, pais e instituições devem mostrar que errar é normal e é válido aprendermos com o erro.
SINEPE/RS: Quais são as ações realizadas pelas instituições?
Ana Machado: Em primeiro lugar, a Instituição deve se conhecer e formar seus códigos de ética digital. Por exemplo, o comportamento do funcionário da instituição nas redes sociais, independente do cargo, deve estar claro para todos. A cooperação é importante porque a escola é um sistema, sendo assim, os diversos integrantes precisam trabalhar em harmonia. A dica é oferecer capacitação ao todo, e não apenas aos professores. Nelas é importante trabalhar a conscientização do bom uso digital e na preparação frente aos desafios dos relacionamentos humanos no mundo virtual. As instituições devem buscar identificar (não diagnosticar) possíveis transtornos mentais, potencializados ou causados pelo uso da internet, realizando o melhor encaminhamento possível, se necessário. E ter a habilidade para potencializar a acolhida e o aprendizado deste aluno, no retorno à escola. Além disso, vale a pena apostar na articulação com outras escolas.
Outro ponto relevante é a realização de seminários com a comunidade escolar: desenvolver atividades interativas com toda a comunidade, debatendo diversos assuntos do mundo digital, criando assim, um espaço de escuta. Além de formar grupos de pais, alunos e professores, pois trocar ideias pode ser efetivo na busca de soluções. Pensando nos alunos, é importante trabalhar o empoderamento, a fim de reduzir problemas com o Bullying e Cyberbullying.
Vivemos um novo período da educação, em que precisamos provocar as pessoas (alunos, pais, responsáveis, professores, gestores) para agirem e em seguida desenvolverem a motivação que vai facilitar o aprendizado. O agir no mundo digital se refere, entre outras coisas, a autoconhecimento, disciplina, resiliência e foco, sem deixar de lado as relações humanas, as pessoas e o desenvolvimento. Quando me refiro a provocar, quero dizer: incentivar as pessoas a ficarem dispostas a conhecer o novo, se conectarem e conversarem sobre os mais diversos assuntos.
SINEPE/RS: Qual o papel do professor na conscientização dos alunos? Como trabalhar esta questão com os pais?
Ana Machado: O trabalho de conscientização digital deve ser sistêmico, porque todos são responsáveis pela exposição identificada ou identificável das crianças e jovens, seja pai, mãe ou escola, pois nunca antes, se esteve tão exposto. Por isso da necessidade de conscientização e cooperação de todos, já que mesmo tentando proteger ao máximo o nome das crianças, só conseguimos minimizar um pouco dessa exposição.
As Instituições de Ensino precisam atualizar seus códigos de conduta e regimentos internos para dar maior transparência sobre o tratamento dos dados e reiterar a solicitação de consentimento aos pais ou responsáveis para o processamento dos dados das crianças. Para coletar, armazenar e utilizar os dados é necessário ter responsabilidade. Mais do que nunca a escola tem como mostrar sua importância na vida de crianças, adolescentes, famílias e sociedade. O cuidado da Instituição de Ensino com os dados pessoais diz respeito a toda comunidade escolar: alunos, pais, responsáveis, funcionários, terceirizados e professores.
SINEPE/RS: Ao que se refere à vida privada: quais são os principais cuidados?
Ana Machado: Precisamos levar em conta que cada família tem seus valores, porém a responsabilidade com a criança ou com o adolescente vem em primeiro lugar. O que colocamos na rede nunca mais é apagado 100%, elas são poderosas tanto para o bem quanto para o mal, já que potencializam assuntos que poderiam facilmente ser resolvidos no privado. Nas redes sociais, pessoas difamadas, podem jamais conseguir mostrar a verdade, pois uma curtida, um comentário, um print, ou uma foto, tira da pessoa o direito de apagar o conteúdo compartilhado.
O exemplo deve vir das pessoas referência das crianças e adolescentes. São essas pessoas que com um diálogo aberto, aceitação do erro e o incentivo para aprender com o erro, vão através de suas pequenas/grandes atitudes formar cidadãos éticos.
Alguns cuidados importantes para ter uma vida on-line saudável:
1. Mantenha suas contas privadas, e evite vinculá-las a outras, pois caso um hacker descubra sua senha, ele terá acesso a várias contas.
2. Oriente as crianças, adolescentes e idosos a fazer o mesmo e alerte sobre os cuidados com aquilo que dizemos nas redes, pois na rede abrimos nossa porta para o mundo.
3. Reflita antes de demonstrar suas emoções e opiniões em um comentário;
4. Não esqueça que tudo que fazemos na internet torna-se nosso currículo on-line
5. Atualize sempre que necessário seus aplicativos;
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* Ana Cristina de Oliveira Machado é idealizadora do projeto Conect.ação, que trabalha com temas como relações saudáveis da internet, conexão com responsabilidade e internet segura.
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