Projetos de Responsabilidade Social são apresentados para Prêmio SINEPE/RS 2025
Três trabalhos mais bem avaliados da categoria foram apresentados na sede do sindicato, em Porto Alegre, no dia 9 de outubro

“Uma escola que não tem perspectiva social, não é escola. Pode ter boa pedagogia, boa gestão, mas não é escola”, disse o presidente do Sindicado do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (SINEPE/RS), Oswaldo Dalpiaz, em sua saudação antes da quarta e última categoria a ser apresentada no dia 09 de outubro, nas defesas dos finalistas do Prêmio Inovação SINEPE/RS 2025, na categoria Responsabilidade Social.
Dalpiaz defende que o prêmio tem um peso muito grande para as instituições de ensino, pois faz com que elas se debrucem sobre o que está sendo feito para entender seus próprios processos. “O bonito é que quando a escola descobre o caminho, esse caminho serve não só para o prêmio, como também para outras atividades. Muitas escolas estão descobrindo como promover o protagonismo junto aos seus alunos, outras estão promovendo naturalmente e ainda não tinham percebido”, exemplifica o presidente.
No que diz respeito à Responsabilidade Social, os trabalhos apresentados mostram uma variedade interessante de abordagens. A sustentabilidade e a solidariedade dão o tom, mas são muitos os cenários e contextos em que são desenvolvidos esses princípios.
Combate a resíduos industriais
Concorrendo também na categoria Estudante Protagonista, o projeto de “Transformação de resíduos pesqueiros em soluções sustentáveis”, da Escola Técnica Cristo Redentor, de Porto Alegre, traz a pegada sustentável dentro do contexto de responsabilidade social. Segundo a equipe da instituição, estima-se que até 20% da poluição industrial mundial na água venha de corantes sintéticos.
Tudo começou com o desafio de criar processos químicos sustentáveis baseados na reutilização de resíduos. Durante a pesquisa, estudantes identificaram o potencial da quitosana – um biopolímero obtido a partir da quitina presente em resíduos como material adsorvente para o tratamento de efluentes, ou seja, atraindo e retendo partículas. Por iniciativa própria, entraram em contato com uma sociedade feminina pesqueira da cidade de Tramandaí, que doou carapaças de crustáceos utilizadas como matéria-prima no projeto.
A extração da quitosana foi realizada pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG), que acolheu a proposta das alunas e contribuiu com a doação do material já processado para uso científico. Utilizando os conhecimentos adquiridos em aula, as estudantes criaram membranas adsorventes de quitosana, com uso de reagentes.
Os testes experimentais foram realizados no laboratório da própria escola, com soluções de corantes sintéticos para simular o tratamento de efluentes industriais. Os resultados foram visualmente expressivos: em menos de 30 minutos, observou-se a completa descoloração das amostras, evidenciando a eficácia das membranas.
Além da FURG, o projeto conta com apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que se encarregará da validação quantitativa dos resultados. Por meio de espectrofotometria, será mensurada de forma precisa a capacidade de absorção.
O projeto também foi fortalecido por conexões com a iniciativa privada. A empresa Attend Ambiental, que trabalha com tratamento de efluentes, reconheceu a relevância técnica
da proposta e forneceu uma carta oficial de apoio.
A segunda etapa do projeto foi desenvolvida no componente curricular de Empreendedorismo. Segundo a coordenação, já há tratativas para que uma startup leve a ideia ao mercado.
Empatia e prosperidade
Quem também volta ao palco do prêmio é a Pan American School, de Porto Alegre. A instituição também concorre na categoria Gestão Institucional, mas com outro projeto (“Lidando com Tópicos Controversos na Sala de Aula).
Desta vez, o assunto é a trajetória da escola, que culmina em um projeto de desenvolvimento do pensamento crítico dos estudantes, ensinando de maneira coletiva para suscitar o senso de coletividade. Na prática, segundo a equipe, isso significa que, mesmo com uma formação global, a ideia é nunca perder a noção de onde se está inserido. Ou seja: aprender a mudar o mundo ao redor para impactar de forma real.
O projeto “Empatia em Ação, juntos prosperamos: a construção de uma cultura de responsabilidade social na Pan American School de Porto Alegre” trata do incentivo a práticas de cidadania. Entre os exemplos, há casos de combate à pobreza menstrual, a despoluição da água por meio da transformação de óleo de cozinha em sabão – e a consequente geração de renda para outros projetos.
Iniciativas na área esportiva, como o Basquete para Todos, que já foi desmembrado para outras modalidades, levam a prática esportiva a escolas públicas parceiras. A uma delas, foram doados 180 pares de tênis, em parceria com a Vulcabras, dona da marca Olympikus. Tudo isso tendo os estudantes como agentes principais.
Na enchente, mais de 320 toneladas de suprimentos e uma tonelada de sanduíches foram alcançados a milhares de pessoas. A compreensão desse tipo de iniciativa como parte da formação integral do indivíduo faz com que elas se multipliquem.
Nesse contexto, surgiu a Walkathon, levando o engajamento da comunidade a outro patamar. A iniciativa consiste em uma caminhada coletiva em que os participantes completam voltas em um percurso previamente definido, assumindo o desafio de angariar doações financeiras a partir do seu esforço individual ou em apoio a outras pessoas para caminharem. As contribuições arrecadadas neste modelo de eventos são destinadas a uma causa pré-definida.
No caso da escola, o destino era a Praça Dr. João Petersen Júnior, que fica próxima à escola e é ponto de encontro para pais e estudantes, na chegada ou na saída das aulas. O espaço também é vizinho da escola estadual Imperatriz Leopoldina, parceira na realização do evento e de outros projetos.
Para arrecadar fundos, foi criado um kit de participação. Os itens foram doados por parceiros e apoiadores, incluindo cupons de desconto em lojas e restaurantes, camiseta oficial produzida pela marca esportiva Under Armour e bóton personalizado do evento.
Com mais de 300 participantes, a ação arrecadou mais de R$ 85 mil, entre doações financeiras diretas, patrocínios institucionais, patrocínio esportivo e doações de produtos e serviços. Os próximos passos são manter o engajamento da sociedade na promoção de ações em prol desse espaço público, além de um dia dedicado a uma atuação coletiva de revitalização da praça. No aspecto pedagógico, os alunos serão incentivados a explorar diferentes abordagens de design urbano, contribuindo conceitualmente para o novo layout da praça, fortalecendo o vínculo entre aprendizagem acadêmica e responsabilidade coletiva.
Ajuda aos profissionais da educação
Inspirados pela corrente de apoio que se criou durante a enchente que assolou o Rio Grande do Sul em 2024, um grupo de ex-alunos procurou o Colégio Farroupilha, de Porto Alegre, para sugerir que o nome e a credibilidade da instituição poderiam ser aplicados no propósito de ajudar o próximo. A ideia que tiveram foi de arrecadar dinheiro em doações via PIX.
“Eu brinco que eles deram a ideia e saíram correndo”, diverte-se a controller da Associação Beneficente e Educacional de 1858 (ABE), mantenedora do Colégio Farroupilha, Grace Rodrigues. Ciente do controle rigoroso que existe sobre a atuação do terceiro setor, mas também do potencial que a ideia realmente tinha, ela e a equipe partiram para a ação.
A primeira decisão da campanha “Colégio Farroupilha Ajuda” foi que ela sairia do papel. A segunda, olhar para os profissionais de educação básica, porque muitas escolas simplesmente haviam parado de funcionar. O projeto consistiria em arrecadar fundos para ajudar esses profissionais.
A opção mais lógica e com mais capacidade organizacional era destinar o valor arrecadado para a compra de móveis e eletrodomésticos para o público definido. A responsabilidade era muito grande, pois as pessoas dariam o dinheiro confiando que ele se transformaria em ação concreta na outra ponta. Para ter ainda mais confiabilidade, uma auditoria foi instaurada e o escopo, montado de acordo com o estatuto da ABE.
A escolha das inscrições ficou a cargo de um comitê formado por três educadores de diferentes áreas. Eles analisaram uma a uma e, depois, foi feito um teste final, por amostragem, para ver se tudo estava de acordo.
Os atos seguintes foram a aquisição e a entrega humanizada dos itens. As equipes acompanharam com a finalidade de acolher e escutar as pessoas, o que, segundo Grace, fez uma grande diferença para todos: doadores e receptores.
Um site específico para o projeto foi criado. O formulário para quem quisesse receber ajuda era acompanhado de comprovante de renda bruta de até três salários mínimos e de que atua na rede básica de ensino, além do comprovante de endereço, para que fossem contemplados os locais em calamidade.
Foram recebidas 600 inscrições, sendo 49% de professores e os outros 51% divididos entre trabalhadores da limpeza, da merenda, biblioteca, auxiliares, assistentes ou orientadores educacionais. Do total, 86% se declararam muito impactados.
Ao todo, foram 685 horas de trabalho, em 11 áreas diferentes, sem que nenhum voluntário tivesse interrompido suas atividades profissionais. No fim, 86 pessoas foram ajudadas, sendo 84 profissionais e duas escolas que foram muito afetadas pela enchente. A doação chegou a 207 móveis e eletrodomésticos, adquiridos com a arrecadação de R$ 235 mil, oriundos de 169 doações.
Grace, que se encarregou de apresentar o projeto, comentou a oportunidade de estar diante de um corpo de jurados para falar sobre o tema, podendo tirar dúvidas da banca e também ouvir opiniões a respeito do trabalho. “As contribuições são inspiradoras e reflexivas, se conectando com muitas coisas que a gente também se provoca. Isso só fortalece para vermos o que podemos fazer cada vez melhor. O grande propósito é o estudante, é a sociedade”, frisou.
Metodologia da apresentação dos trabalhos
Na terceira e última etapa de avaliação dos projetos que concorrem ao Prêmio Inovação SINEPE/RS 2025, cada equipe teve 20 minutos para a apresentação. O tempo foi cronometrado pela organização e exibido para os apresentadores, para que pudessem ter controle.
Após cada exposição, os jurados tiveram a oportunidade de tecer comentários e fazer perguntas, que foram respondidas em um período adicional de cinco minutos. Concluída cada categoria, os respectivos avaliadores conversaram entre si, mas atribuíram notas individualmente. Delas, é feita uma média que compõe com as outras notas da competição.
Segundo a gestora de projetos do SINEPE/RS, Luciana Jeckel, 51 jurados voluntários, de diferentes áreas do conhecimento, participaram da avaliação dos projetos. Nesta etapa, foram três para cada categoria. O resultado final, com as categorias ouro, prata e bronze, será divulgado no dia 5 de dezembro, no Teatro do Prédio 40 da PUCRS.
A premiação deste ano conta com patrocínio da FTD Educação.
Confira os jurados da categoria:
- Eduardo Borba, jornalista, mestre em comunicação e especialista em direitos humanos
- Glória Maria Albuquerque Martins Berlitz, analista de saúde e bem estar, assistente social na Eletrobrás
- Karine Ruy, jornalista, doutora em Comunicação e diretora executiva da Fundação Gerações

