O último dia do 18º Congresso do Ensino Privado do SINEPE/RS reuniu reflexões sobre cuidado, propósito e sentido. A manhã foi aberta pelo filósofo e pedagogo Humberto Herrera, com a palestra “Pedagogia do cuidado e qualidade de vida”. No encerramento do evento, o filósofo, teólogo e palestrante Zeca de Mello provocou os educadores a pensarem sobre a indispensável simbiose entre razão e emoção, explorando as crises que atravessam a sociedade contemporânea – de direção, de significado e de sensibilidade – e a urgência de reconectar-se com o que realmente importa.

De Mello abordou temas como a estética do liso, a esfera da ressonância, o esquecimento do corpo e a inflação de propósitos. Para ele, a aceleração e a superficialidade do mundo atual – onde tudo precisa ser rápido, polido, eficiente – anestesiam os sentidos e esvaziam de sentido as relações. Ao recorrer a pensadores como Hartmut Rosa, Byung-Chul Han e Aristóteles, ele apontou caminhos possíveis para uma educação que toca, transforma e reconecta o sujeito a si mesmo, ao outro e ao mundo.

“A verdade é aquilo que não pode ser esquecido”, disse, lembrando que experiências de aprendizagem marcantes são aquelas que atravessam a pele e deixam marcas duradouras.

O palestrante reforçou que não basta conhecer os valores, é preciso vivê-los, especialmente sob pressão. Retomando a noção aristotélica de phronesis (sabedoria prática), ele mostrou que a ética não é um conjunto de normas abstratas, mas, sim, um saber que nasce da vivência, da sensibilidade e da repetição. Em um mundo onde é fácil se render à lógica da conveniência ou do silêncio, dar voz aos próprios valores exige coragem moral. Para isso, segundo de Mello, é essencial preparar-se. “Quando você roteiriza previamente sua resposta ética, aumenta suas chances de resistir”, afirmou, lembrando que educar também é coreografar, com os alunos, ensaios para as situações reais da vida.

Com exemplos inspiradores e exercícios vivenciais, o palestrante compartilhou histórias de pessoas que conseguiram expressar seus valores mesmo diante de pressões intensas – e também de momentos em que isso não aconteceu. “O problema não é que nós não temos valores. O desafio está em sustentá-los nas pequenas e grandes decisões do cotidiano”, provocou.

Ao final, o palestrante afirmou que a educação capaz de ressoar é aquela que combina razão e emoção, técnica e escuta, conteúdo e vínculo. Em tempos de superficialidade, a verdadeira revolução pode estar justamente em ensinar os alunos – e a nós mesmos – a permanecer nas perguntas, a sentir com profundidade e a agir com ética mesmo quando ninguém está olhando.

O filósofo também alertou para a importância de ambientes educativos que favoreçam essa escuta interior e coletiva. Quando uma escola declara seus valores, eles não podem ficar apenas na parede – devem habitar as práticas, os encontros, os dilemas e as decisões do cotidiano escolar. Criar espaços onde os estudantes possam refletir sobre seus próprios princípios, compartilhar experiências e treinar respostas diante da pressão social ou institucional é, segundo ele, um compromisso ético urgente.

“A sensibilidade ética se educa. E a educação que forma para a vida precisa começar justamente por esse exercício: tornar possível que cada um dê voz ao que carrega de mais verdadeiro”, disse.

Sobre o Congresso

O 18ª Congresso do Ensino Privado é uma realização do SINEPE/RS e tem como patrocinadores: FTD Educação, PUCRS, SAS Educação, Pearson Thomas Bilíngue for Schools, Editora do Brasil, International School, Bernoulli Sistema de Ensino; Santillana Educação; Poliedro Sistema de Ensino; COC; ZOOM EDUCATION FOR LIFE; HUMUS Educação; Somos Educação e Macmillan Education. Apoiadores: Applause Formaturas e Bike Village.