IA, avaliação e propósito: educação no centro das transformações
Idelfranio Moreira e Alexandre Ventura instigam educadores no Congresso do SINEPE/RS a reimaginar o papel do professor diante das inovações tecnológicas e pedagógicas
Os educadores Idelfranio Moreira e Alexandre Ventura ocuparam o palco dedicado aos professores no auditório do Centro de Eventos da PUCRS, em Porto Alegre, para abordar dois temas decisivos para o futuro da educação: inteligência artificial e avaliação das aprendizagens. Os assuntos marcaram a programação da manhã no 18º Congresso do Ensino Privado do SINEPE/RS.
Com base em dados atuais e casos internacionais, Idelfranio Moreira apresentou o conceito de inteligência artificial aumentada, em que humanos e máquinas formam uma dupla colaborativa. “Já fomos a espécie mais inteligente da Terra. Agora temos outra inteligência batendo no nosso ombro. E o segredo está em trabalhar em conjunto”, afirmou.
Segundo ele, a próxima contratação em uma escola pode muito bem ser feita por uma IA – e não pelo RH ou pela TI. Por isso, argumentou, o papel do professor está mudando. Quem utiliza a IA apenas para delegar tarefas e entregar resultados padronizados se torna o que ele chama de “professor central”. Já o “professor ciborgue” usa a IA para automatizar tarefas operacionais, mas mantém o olhar humano e pedagógico na adaptação dos conteúdos às necessidades de cada turma. “Ser ciborgue é isso: usar a IA como ferramenta e aplicar sua inteligência humana onde ela é insubstituível”, explicou.
Moreira também fez um alerta: muitos estudantes vêm usando a IA para evitar o esforço cognitivo, recorrendo a ferramentas para resumir textos ou gerar respostas prontas – atitudes que se limitam à base da Taxonomia de Bloom, sem alcançar os níveis mais analíticos e criativos. “Estamos vendo uma geração que tem todas as oportunidades nas mãos, mas muitas vezes está despreparada para elas. Minha esposa costuma dizer que é a geração da preguiça de viver. Tudo parece difícil. Nada vale o esforço. Mas educar ainda é isso: despertar propósito”, pontuou.
A redução da barreira de entrada para novas tecnologias, segundo ele, reforça esse desafio. Com apenas um par de óculos, já é possível conversar em tempo real com tradução simultânea – recurso recém-lançado pelo WhatsApp. “Isso muda tudo. E exige mais excelência, mais ética, mais curiosidade e mais humanidade. Hoje o mundo oferece todas as oportunidades, mas poucos estão verdadeiramente se preparando para elas”, completou.
Avaliação das aprendizagens
Na sequência da programação, o educador português Alexandre Ventura abordou os desafios da avaliação educacional sob uma perspectiva humanizada, formativa e conectada à prática docente. “A avaliação deve ser feita com os alunos, não aos alunos”, enfatizou.
Para Ventura, avaliar bem requer sensibilidade, intencionalidade e parceria. “A avaliação é uma bússola – orienta o caminho, mas não entrega um mapa pronto. Cabe a cada escola construir esse percurso com os alunos, considerando suas trajetórias, estilos e realidades”, afirmou. Ele acredita que os educadores devem desafiar os estudantes com tarefas cognitivamente mais complexas – como analisar, avaliar e criar – em vez de oferecer apenas “feijão com arroz”. “Alguns já estão prontos para o peixe”, comparou.
Ao destacar as tendências globais em avaliação, Ventura apresentou um panorama. Uma delas é a transição do foco no ensino para o foco na aprendizagem, com atenção ao que os alunos de fato desenvolvem. Outra é a avaliação para a aprendizagem, com função formativa e voltada à melhoria contínua.
Também citou o uso de tecnologias digitais, como portfólios, quizzes e aplicativos, que permitem feedback em tempo real. A importância do feedback individualizado, com sugestões claras de próximos passos – e não apenas diagnósticos genéricos. E a valorização do progresso ao longo do tempo, considerando o ponto de partida de cada estudante.
Ventura defendeu ainda que os próprios alunos sejam convidados a narrar suas trajetórias de aprendizagem, analisando seus portfólios ou cadernos e relatando avanços. “É extraordinário ver um aluno dizer: ‘antes eu escrevia com frases quebradas, agora escrevo com fluidez’. Esse exercício de verbalização é, em si, um momento de aprendizagem”, destacou.
Por fim, reforçou que avaliar é também um ato emocional e relacional. “Educar é um ato de amor. Se a avaliação faz parte do processo educativo, ela também precisa ser feita com empatia, respeito e humanidade”.
Sobre o Congresso
O 18ª Congresso do Ensino Privado é uma realização do SINEPE/RS e tem como patrocinadores: FTD Educação, PUCRS, SAS Educação, Pearson Thomas Bilíngue for Schools, Editora do Brasil, International School, Bernoulli Sistema de Ensino; Santillana Educação; Poliedro Sistema de Ensino; COC; ZOOM EDUCATION FOR LIFE; HUMUS Educação; Somos Educação e Macmillan Education. Apoiadores: Applause Formaturas e Bike Village.